21 de ago. de 2013

Com que cabelo vou ao baile?

Genisclei Roberto era um cara legal, ele gostava de cantar, não era um exímio cantor, no entanto tinha lá suas composições e ainda embalava os bailes com o grupo do CTG conhecido como Centro de Tradições Gaúchas Bela Melena na cidade de Ivoti-RS.
Genisclei se esforçava para fazer ótimas canções nos bailes e animar o povo pedindo até salvas de palmas ao término das canções, embora ele não fosse lá muito envolvido no CTG, sempre mostrou responsabilidade no que lhe deram como ofício, a trova e as canções.
Mas o CTG Bela Melena também tinha um patrão, e ele não gostava do estilo do cabelo de Genisclei Roberto, contudo ele sempre cobrou o responsável pelos bailes Juliano Strona, e o pobre Juliano ficava no meio de uma luta, não sabia se mantinha o gaudério no palco ou se mandava ele sair devido a essa “afronta” as tradições apontada pelo patrão Gaudêncio.
O patrão por sua vez gostava de cobrar dos líderes e exigir das pessoas sem que elas soubessem e na frente dos exigidos sorria e mantinha sua simpatia e amizade inabaláveis. Juliano sabia disso, e por isso não levava adiante, mas indiretamente tentava explicar para Genisclei como as coisas funcionavam naquele CTG tradicionalista.
Certa vez Juliano pediu para que eu cuidasse de um baile, cantasse, trovasse e dançasse a chula, mas inventei de passar essa tarefa para o Genisclei, desconhecendo a rixa entre o patrão Gaudêncio e o gaudério Genisclei. Na verdade embora soubesse que nosso CTG fosse muito tradicionalista por muitas vezes acreditei que este CTG era bem mais “liberal” que muitos outros por esse Rio Grande a fora.


Estava sendo um baile muito bom, muita música, alegria e amizade. Mas não é que ao término daquele baile chega Juliano enfurecido para falar comigo? Ele queria satisfação e entender porque eu não tinha feito o que me foi proposto.
Disse que não fazia diferença pois Genisclei estava sempre nos bailes cantando, trovando e dançado a chula, e então Juliano me informa que o patrão do CTG já não queria mais que ele subisse ao palco, pois seu cabelo não estava dentro das normas do CTG, ele tinha medo que os jovens passassem a cortar o cabelo daquela forma e isso virasse uma moda descontrolada e assim o CTG perdesse o foco nas suas tradições.
Disse para o responsável e coordenador do CTG que não se pode julgar pelas aparências, mas sim pelas atitudes. Lembrei um antigo membro do CTG que sempre esteve ali cantando e trovando, no entanto simplesmente saiu porque queria ser a estrela maior do rincão.
Hoje, Genisclei ainda canta, toca e dança a chula e o patrão Gaudêncio por outros motivos disse que não quer mais ficar à frente do CTG, disse que já está velho demais para tocar. Quem sabe Gaudêncio tenha aprendido uma lição, e saiba que não se pode simplesmente tirar um membro do CTG porque ele não está 100% dentro das nossas tradições gaúchas, pois as normas de um CTG não significam nada quando se leva o amor pelo Rio Grande no peito.
 
Augusto Marques

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